Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Monday, December 24, 2012

E O MAIS IMPORTANTE É O AMOR.

Eu continuo não gostando do Natal. Eu sempre não gostei. O Natal foi sempre um “tempo de violência”, de brigas, discussões, discórdias e medos. E um tempo de esperanças roubadas. Aquelas promessas, aqueles desejos, nunca foram realizados. Eu tive um Natal bom de verdade um dia; isso eu não posso mentir. Mas a maioria deles foi “roça”, como dizem. Quando o inferno passou, veio a calmaria. Mas a calmaria não trouxe felicidade. Esse Papai Noel esperado, que traz presentes, surpresas e renovações, não tinha chegado. Por um tempo acreditei que chegaria. Meus olhos de criança, meu coração aflito de menino esperava um Natal feliz. E eu não vi isso acontecer. Noutro tempo tive ódio; amaldiçoava a crença, a esperança, não era capaz de ver nenhuma beleza nessa expectativa. Hoje o Natal é neutro. Fico apenas indignado com a pobreza, com a miséria, com a falta de compreensão, com o trânsito e o estresse das pessoas. Mas não consigo ver no Natal essa mágica que muitos ainda vêem.

Outro dia postei no Facebook: “E está inaugurada a temporada das chatices de Natal”. Muitos concordaram. Como sempre, sou o porta-voz de uma legião de pessoas ao dizer as palavras indizíveis. Porque muitas vezes, os discordantes, os dissonantes não têm voz. É proibido não gostar de Natal. É feio não montar presépios e não pendurar guirlandas. Eu continuo achando um porre os amigos secretos. Às vezes participo de alguns simplesmente por encontrar pessoas queridas; mas fujo da maioria deles. Não consigo gostar nem dos seus incrementos, suas novas modalidades: havaianas, amigo anônimo, trocas repetidas de presentes, amigo indiscreto. Quando postei, fui lembrado de um bom Natal que tive: a fórmula foi a espontaneidade, a falta de obrigação. Mas fui presenteado com mensagens bíblicas que não recrimino; apenas não fazem sentido para mim. Simplesmente porque meu coração não bate com presépios, Santas Ceias e Via crucis. É o rufar dos atabaques, é a dança dos Orixás, o nascer e por do Sol, o barulho das ondas do mar, a queda das cachoeiras sobre as pedras que deixam meu coração extasiado. Respeito e admiro todas as religiões e seus fiéis, mas não encontro Deus no Natal. Não encontro porque não procuro. Não procuro porque não quero. E não quero porque não sinto, salvo em alguns lampejos de amor de pessoas que realmente têm no Natal uma data do coração, sem a hipocrisia habitual e a obrigação natalesca. Porque de nada adianta ir a cultos, ler bíblias e fazer orações belíssimas para o menino Jesus se, ao terminar, falamos mal da comida da cunhada, amaldiçoamos o presente indesejado do amigo secreto forçado, falamos mal da bunda da prima ou esbofeteamos nosso filho. Ali, bem em frente ao presépio. Também não adianta fingir que está tudo bem, passar por cima do passado como se ele não tivesse existido. Isso não é perdão. Isso é fingimento.

Uma grande amiga disse tudo sobre as festividades: “Essa porra toda é besteira. Porque a grande passagem, a grande virada, fazemos no dia no nosso aniversário. Mas o acúmulo de energia, vibrações e esperança que se acumula nessa época acaba criando uma forte corrente de energia.” Acho que é isso. Uma forte corrente de pessoas vibrando por um mesmo fim. Isso pode ser feito em qualquer época do ano, em qualquer data que se escolha, mas nesse momento do ano, praticamente o mundo todo está nessa vibração.

E é essa parte que me decepciona nessas épocas: o monte de gente que está de mal com a vida no Natal. Gente estressada, xingando, praguejando; gente incapaz de perceber o quanto está venenosa, intoxicada e intoxicante. Eu comprei alguns presentes. Para os meus sobrinhos. Graças a Deus eles vivem um Natal pacífico, com gente que é capaz de dar amor ao invés de tapas. Provavelmente eles amarão o Natal, e essa data significará para eles o que deveria significar para todas as crianças: magia, curiosidade, felicidade. Eu não sei se serei capaz disso um dia; de amar o Natal. Hoje, no máximo, consigo não odiar e sorrir para quem me deseja boas coisas e desejar que as pessoas tenham seus desejos realizados, mas que, principalmente, tenham paz em seus lares.

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