PERDOAI, SENHOR, ELAS NÃO SABEM O QUE FAZEM, O QUE DIZEM, E NEM O MAL QUE CAUSAM.
Todo mundo fala da língua da sogra. Nos Estados Unidos, a espada de
São Jorge não protege ninguém: é chamada de língua de sogra, por ser comprida e
pontuda. Comprida, ferina, critiquenta. Aqui, olho de sogra virou doce, mania
brasileira de adoçar tudo da vida. Provavelmente inspirado no "olho do
mal", aquele olho impiedoso que tudo vê e tudo destrói.
Pra sogra tem piada, ditado, historinha. "Feliz era Adão, que
não tinha sogra", dizem. Mas sogra nem sempre é ruim. Conheço gente que
tem sogra melhor que mãe. Mas da mãe, relíquia da cultura judaico-cristã,
poucos falam. Piadas, só para mães italianas e judias. Nas redes sociais, só
mensagens de louvor e regozijo para as mamitas. Sem falar naquelas citações do
duvidoso conceito do amor incondicional das genitoras. Será mesmo?
Muita gente deve torcer o nariz ao ler essa minha postagem, e deve
pensar que escrevo para aquietar a minha sensação de injustiça. Hoje não. Hoje
não posto por mim. Escrevo para defender, honrar, encorajar a todos que sofrem
ou sofreram injustiças e julgamentos de suas próprias mães. "Bullying
interno", eu diria. Mães que não acreditam em seus filhos, que criticam,
destroem, desvalorizam.
Mães que consideram vergonhoso ter um filho cabeleireiro,
costureiro, tatuador, artista plástico, ator, cantor, músico, malabarista,
transformista. Mães: não apoiar um filho faz mal à saúde mental dele e o
transforma em parasita, retardado, dependente químico, fracassado. Mentecapto
esse que, não raras vezes, você terá que carregar vida afora. Destruir a
auto-estima de seu filho é a melhor forma de garantir um peso eterno a
carregar.
Mãe: se você acredita nessa baboseira de amor incondicional, prove
que você ama seu filho do jeito que ele é, com suas escolhas, suas inclinações,
seus desejos. Tenho a certeza de que assim você cumprirá a sua missão no mundo,
que muito além de parir, deveria ser de zelar pela felicidade do seu filho.
Zelar não é carregar; é escorar, dar suporte, dar carinho.
Não estou dizendo que toda pessoa que se torna um fracasso passou
por isso; digo apenas que tenho observado que pessoas vítimas da rejeição e da
falta de aceitação parentais, sobretudo maternas, estão mais vulneráveis à
derrota.
Devemos elogiar o rabisco da criança, que para ela é uma linda obra
de arte; isso vale para as tentativas de escolher as próprias roupas, os
alimentos, os presentes. Devemos acreditar nos amigos invisíveis, sejam eles
fantasias, imaginação, espíritos ou arquétipos; eles são reais e importantes
para aquela criança. É lógico que
devemos dar limites; mas limite não é castrar a individualidade.
Nesses modernos e esquisitos tempos, culpamos as companhias e as
tecnologias pelas transformações nas cabeças dos filhos. Poucos enxergam que
dão pouca ou nenhuma atenção a seus filhos, raríssimos elogios, demasiadas
críticas e preenchem com coisas, marcas e aparelhos o amor que não se souberam
dar.
Ver crianças crescendo me permite observar o tanto que erramos e o
quanto acertamos ao edificar personalidades: preconceitos, inseguranças,
hábitos, medos. Muitas vezes constroem-se prédios tortos e espera-se que não
sucumbam. Resultados: gente insegura, perdida, dominada pela sensação de
incapacidade, muitas vezes com pouca chance de recuperação.
Mais do que raivoso, estou triste, decepcionado com a ignorância.
Assisti, de camarote, a uma mãe incapaz de reconhecer o trabalho, o esforço, o
talento de um filho seu. Ela não é incapaz apenas hoje: foi sempre assim. Não
atendeu os pedidos de seu filho para estudar o que desejava; achava que era
coisa de vagabundo; não soube proteger seu filho num momento de aflição.
Perguntei a esse filho se ele a mandou para o inferno, entre outros palavrões.
Ele respondeu que não, que já estava acostumado. O que nem ele, nem ela
percebem é que essa depreciação, essa crítica exacerbada, esse desprezo, são
capazes de matar a alma, subtrair o talento. Fiquei com vontade de escrever
para ela. Fiquei com vontade de dizer o quanto ela é despreparada para ser mãe.
Pronto. Está dito.
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