Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Thursday, December 13, 2012

PERDOAI, SENHOR, ELAS NÃO SABEM O QUE FAZEM, O QUE DIZEM, E NEM O MAL QUE CAUSAM.



Todo mundo fala da língua da sogra. Nos Estados Unidos, a espada de São Jorge não protege ninguém: é chamada de língua de sogra, por ser comprida e pontuda. Comprida, ferina, critiquenta. Aqui, olho de sogra virou doce, mania brasileira de adoçar tudo da vida. Provavelmente inspirado no "olho do mal", aquele olho impiedoso que tudo vê e tudo destrói.

Pra sogra tem piada, ditado, historinha. "Feliz era Adão, que não tinha sogra", dizem. Mas sogra nem sempre é ruim. Conheço gente que tem sogra melhor que mãe. Mas da mãe, relíquia da cultura judaico-cristã, poucos falam. Piadas, só para mães italianas e judias. Nas redes sociais, só mensagens de louvor e regozijo para as mamitas. Sem falar naquelas citações do duvidoso conceito do amor incondicional das genitoras. Será mesmo?

Muita gente deve torcer o nariz ao ler essa minha postagem, e deve pensar que escrevo para aquietar a minha sensação de injustiça. Hoje não. Hoje não posto por mim. Escrevo para defender, honrar, encorajar a todos que sofrem ou sofreram injustiças e julgamentos de suas próprias mães. "Bullying interno", eu diria. Mães que não acreditam em seus filhos, que criticam, destroem, desvalorizam.

Mães que consideram vergonhoso ter um filho cabeleireiro, costureiro, tatuador, artista plástico, ator, cantor, músico, malabarista, transformista. Mães: não apoiar um filho faz mal à saúde mental dele e o transforma em parasita, retardado, dependente químico, fracassado. Mentecapto esse que, não raras vezes, você terá que carregar vida afora. Destruir a auto-estima de seu filho é a melhor forma de garantir um peso eterno a carregar.

Mãe: se você acredita nessa baboseira de amor incondicional, prove que você ama seu filho do jeito que ele é, com suas escolhas, suas inclinações, seus desejos. Tenho a certeza de que assim você cumprirá a sua missão no mundo, que muito além de parir, deveria ser de zelar pela felicidade do seu filho. Zelar não é carregar; é escorar, dar suporte, dar carinho.

Não estou dizendo que toda pessoa que se torna um fracasso passou por isso; digo apenas que tenho observado que pessoas vítimas da rejeição e da falta de aceitação parentais, sobretudo maternas, estão mais vulneráveis à derrota.

Devemos elogiar o rabisco da criança, que para ela é uma linda obra de arte; isso vale para as tentativas de escolher as próprias roupas, os alimentos, os presentes. Devemos acreditar nos amigos invisíveis, sejam eles fantasias, imaginação, espíritos ou arquétipos; eles são reais e importantes para aquela criança.  É lógico que devemos dar limites; mas limite não é castrar a individualidade.

Nesses modernos e esquisitos tempos, culpamos as companhias e as tecnologias pelas transformações nas cabeças dos filhos. Poucos enxergam que dão pouca ou nenhuma atenção a seus filhos, raríssimos elogios, demasiadas críticas e preenchem com coisas, marcas e aparelhos o amor que não se souberam dar.

Ver crianças crescendo me permite observar o tanto que erramos e o quanto acertamos ao edificar personalidades: preconceitos, inseguranças, hábitos, medos. Muitas vezes constroem-se prédios tortos e espera-se que não sucumbam. Resultados: gente insegura, perdida, dominada pela sensação de incapacidade, muitas vezes com pouca chance de recuperação.

Mais do que raivoso, estou triste, decepcionado com a ignorância. Assisti, de camarote, a uma mãe incapaz de reconhecer o trabalho, o esforço, o talento de um filho seu. Ela não é incapaz apenas hoje: foi sempre assim. Não atendeu os pedidos de seu filho para estudar o que desejava; achava que era coisa de vagabundo; não soube proteger seu filho num momento de aflição. Perguntei a esse filho se ele a mandou para o inferno, entre outros palavrões. Ele respondeu que não, que já estava acostumado. O que nem ele, nem ela percebem é que essa depreciação, essa crítica exacerbada, esse desprezo, são capazes de matar a alma, subtrair o talento. Fiquei com vontade de escrever para ela. Fiquei com vontade de dizer o quanto ela é despreparada para ser mãe. Pronto. Está dito.


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