SUB-ASSASSINATOS

Nessas épocas de grandes catástrofes espalhadas pelo mundo, além das que já fazem “ponto fixo”, acabamos por valorizar mais a vida. Reclamamos menos do sábado chuvoso que atrapalhou nossos planos e agradecemos por ficarmos em casa, sãos e salvos, felizes e sequinhos, longe das enchentes.
Fazemos credo-em-cruz por nao ter fechado aquele pacote baratinho para o Chile ou por não estar voando no mesmo avião da American Airlines que a Luciana Gimenez, o que configuraria uma dupla catástrofe.
Enfim, somos levados a ficar mais crentes, mais místicos, mais condescendentes com os pequenos problemas do cotidiano. Ficamos mais caridosos, doando roupas, dinheiro, comidas. Seja para o Haiti, para o Chile ou para a Zona Leste, brota a “embrionada” sensação de fraternidade.
Mas o mundo continua a rodar, gente continua a morrer de fome, de guerras, de doenças incuráveis, de amor e de acidentes de moto. Sim, tenho pavor de motos. A própria palavra, pra mim, é uma corruptela de “morte”..Morte,morte,morte,mote,moto,morte. Fim. Ponto.
Sei que tem gente cuidadosa. Sei que tem motoboys fantásticos que levam meus documentos enquanto estou protegido da chuva, sei que, apesar do meu pavor, não recusaria uma voltinha de Harley-Davidson pela Route 66 ou pela Côte D’Azur. Mas ainda assim, como esse sonho continua no capítulo sonhos, numa página muito próxima da Mega Sena, continuo tendo pavor de motos.
Mas quando um adulto, mentalmente capaz ou quase, resolve dirigir uma moto, nada a fazer senão lamentar e rezar. Não tenho filhos, mas é isso que faria com meus sobrinhos. Não proibiria ferozmente, mas não daria um tostão para que comprasse uma moto. Acho que esse tipo de paixão deve ser compreendida, do mesmo modo que espero que compreendam minha paixão por Paris, Nova York, Häagen Dazs, Juliette Binoche e chocolate.
Resolvi falar sobre motos, mas não pelas motos em si. Motivado por uma cena que vi hoje no trânsito e que tenho visto com frequência: crianças das garupas de motocicletas de seus pais irresponsáveis e assassinos. Hoje estava na Rua Domingos de Morais, por voltas das 13:30h, quando vejo uma menina que, pela delicadeza dos bracinhos que seguravam na traseira da moto, deveria ter uns sete anos, no máximo. De capacete cor-de-rosa, orgulhosa da garupa do seu pai, tio, padrasto. Uma aventura fascinante. E se houvesse um acidente? Braço pra um lado, perna pro outro, traumatismo craniano e à menininha tão linda sobram duas opções: subir aos céus ou ficar retardada e paraplégica.
É claro que no meio das catástrofes pode acontecer muita coisa. Acidentes podem acontecer, sem maiores danos. “Ufa, foi só um susto!”. Mas e se for mais sério que isso? E se essa menininha linda voar longe com o impacto e for parar do outro lado da pista? Você consegue imaginar sua filhinha paraplégica e com perturbações mentais advindas de um acidente pelo qual você foi (i)responsável?
Daí fui pesquisar a questão da legislação e veja o que encontrei: “O artigo 244, inciso V do CTB estipula que aquele que conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor transportando criança menor de 7 (sete) anos ou que não tenha , nas circunstâncias, condições de cuidar de sua própria segurança, comete uma infração de trânsito de natureza gravíssima. Se a criança for menor de sete, presume-se que ela não possa cuidar de sua própria segurança”.
Sete anos.... é uma boa idade pra andar na garupa de moto... realmente é inclusive o momento ideal para uma criança aprender a dirigir e a conduzir tratores! Puxa vida! Que merda de legislação é essa! Como é que pode uma criança poder andar na garupa de uma moto com sete anos, já que ela é capaz de cuidar da sua segurança e paradoxalmente ter que esperar 11 anos mais para poder fumar, beber e dirigir?
Parece que tem um projeto de lei tramitando por “aí”, tentando elevar a idade de sete para dez anos. Que avanço enorme! Dez anos é realmente muito diferente! Uma criança de dez anos deveria ser praticamente um adulto! Ora, bolas! Pra mim, nem sete, nem dez, nem doze... No mínimo dezesseis!
Sim, eu já bati um papo com Freud e Jung e compreendi os motivos “obscuros” que me levaram a falar sobre isso hoje, além de me incomodar com isso há tempos e ter visto mais um exemplo insano hoje.
Mas vamos abandonar o campo subjetivo e pensar só no aspecto prático do risco de acidentes com crianças em garupas de motos. E ponto.
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