CONVITES DE YEMANJÁ
Olha eu, de novo, encantado com a Bahia. Em
minha última baiana jornada, em pleno dois de fevereiro da baianíssima Yemanjá,
eu recebi um presente: fui com uma amiga ao teatro, ver “Mar Morto Revivido”,
uma linda peça de formatura da escola livre de teatro da Universidade Federal
da Bahia, inspirada na obra quase homônima do venerado Jorge Amado. Confesso
que pirei. Linda montagem, revivida e não revisitada, fiel à alma da obra. Em
tempos de homenagear a deusa Janaína, uma enxurrada de louvores, cantigas,
macumbarias, danças e profundos conhecimentos sobre a simbologia de Yemanjá em
nossas vidas.
Já falei várias vezes dela em meus
escritos, já louvei, já declarei meu amor e, mais que tudo, metamorfoseei minha
visão e meu coração sobre essa mãe. Volto a falar dela porque, desde a peça e
depois a festa, voltei “encantado” pela deusa. E encantado no sentido de
encantamento, de feitiço, de magia. Estou hipnotizado pelo canto da sereia, que
me leva para o fundo do mar. Hoje, sentado na sala do meu analista, falei sobre
isso. E como acontece quase toda vez que recebo essa “visita” de Yemanjá em
meus pensamentos, demoro a compreender seus significados. Sou capaz de sentir a
profundidade, mas demoro a entender suas mensagens.
Estou choroso, sentimental, melancólico.
Não a melancolia da depressão, da “des-vontade”. Estou cercado pelas profundas
águas de Dona Janaína, chorando ao ouvir como é doce morrer no mar ou que quem
vem pra beira do mar nunca mais quer voltar. Estou saudoso. Pensando nas
pessoas que amo, nas pessoas que perdi, naqueles que reencontrei e, principalmente, naquelas que não
desejo perder nunca.
E decidi escrever sobre isso porque Yemanjá
sempre me faz refletir sobre essas amigas-irmãs-mães que tive em meu caminho.
Com suas idas e vindas, com algumas partidas, sempre tive ao meu lado uma doce
filha de Janaína em minha vida, para cuidar, dar carinho, atenção proteção.
Ainda mais hoje, que aconteceu algo tão lindo e curioso. Conversando com um
paciente em meu consultório, ele de repente olhou para mim e começou a falar
que estava sentindo “fortes presenças espirituais” naquele ambiente. Logo
depois ele descreveu uma mulher, dizendo que era como se fosse “um tipo de
Janaína, uma cabocla do mar”. Era a verdade saindo da boca de um quase-estranho,
que pouco sabe sobe minha vida e meu percurso espiritual. Yemanjá, Janaína,
Dandalunda, Yara, Inaê, Marabô, Princesa de Iaocá. Seja qual for o seu nome,
ela estava lá, comigo.
Lendo Jorge Amado, cantando as cantigas de
Caymmi e de tantos outros cantores e cantoras que se aventuram pelos mares da
deusa com suas cantigas têm estado mais do que nunca me embalando por essas águas.
É o canto da sereia, me convidando para um passeio profundo pelo seu reino,
pela sua sabedoria. O que faço? Vou de encontro a ela? Mergulho na profundidade
dessas águas? Me perco nessa imensidão azul. Tarde demais para ter dúvida. Já
entrei e me afundei nesse azul imenso.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home