Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Thursday, April 04, 2013

“NÃO APRENDI DIZER ADEUS”



Ave Maria, tire essa música brega da minha cabeça. Pra quem não sabe, “Não aprendi dizer adeus” é uma música brego-country cantada por Leandro&Leonardo e ela não está saindo da minha cabeça. Mas eu entendo o motivo. Tenho refletido em como é difícil dizer adeus, simplesmente porque não aprendemos. Pelo menos eu não aprendi.

Todos os dias vejo pessoas com o mesmo tipo de problema: como é difícil tomar a decisão de ir embora, de sair de algo, de um lugar, de uma situação ou de uma relação que não desejamos mais ter, estar ou viver. É difícil sair, é difícil ir embora, principalmente quando, ao menos aparentemente, não há motivos para isso, senão o legítimo desejo. Então fica bem mais fácil tomar essa atitude quando odiamos, quando sentimos raiva, quando brigamos e nos desentendemos; e muitas vezes criamos tais situações para que sejamos “expulsos” ou que funcionem como uma “mola propulsora” para tomar a decisão.

E isso quase sempre não é bom. Porque se saímos desse jeito, criamos mágoas, feridas, inimizades, rompemos brutalmente pela simples dificuldade que temos de dizer adeus. Transferimos para o outro a responsabilidade, culpamos o outro pelo nosso infortúnio e pela razão da nossa saída. As pessoas fazem isso em empregos, cursos, relacionamentos. É aparentemente mais fácil “pular de barco” se pensamos que ele está afundando do que simplesmente encarar que nós não estamos curtindo a viagem.

Eu digo que não aprendi a dizer adeus porque, em diversas situações, saí “brigado” ou “decepcionado” com lugares, coisas, pessoas, empregos e templos. Mas acho que aprendi a lição. Essa semana tomei a decisão de deixar um lugar, um grupo de pessoas, um atividade. E resolvi sair da melhor e mais difícil forma: de cabeça erguida e assumindo que não existia nenhum problema com o lugar, com as pessoas. O problema estava em mim. Era a insatisfação do meu coração, os desejos da minha alma que estavam em outro lugar. Chorei, me emocionei, perdi o sono. Mas consegui. E algumas pessoas perguntaram: vai para outro lugar? Está nos trocando? Seria mais fácil se a resposta fosse afirmativa. Seria mais fácil ter um outro barco para pular, uma ilha para atracar, mas não.

Outro dia soube de uma amiga que tomou essa atitude em relação ao seu casamento. “Estava tudo bem aparentemente, a gente se dava muito bem, mas percebi que nos tornamos amigos.” Ela se sentia culpada por “destruir uma família”; muitas pessoas a julgaram pela atitude, pelo aparente mal que estaria fazendo a seu filho. Ela veio se aconselhar comigo e eu apoiei a decisão. Quanto ao filho, é lógico que ele sentiria alguma insegurança, mas expliquei a ela que a única coisa que a criança precisa é de carinho, amor e informação “verdadeira”. Muitas vezes poupamos as crianças achando que elas não entendem o que se passa; elas ficam aflitas, ansiosas, inseguras. É então que começam a apresentar problemas na escola, na vida, ficam doentes. Elas adoecem por medo, por insegurança. Quando vamos explicando a ela, passo a passo  o que está acontecendo, mostrando que estamos presentes, com carinho e amor, ela se sentirá segura e sofrerá muito menos.

Mas Deus! Como é difícil assumir a responsabilidade da própria vida. Somos acostumados a culpar o outro, mesmo que seja uma obsessão espiritual. Outro dia conversei com uma amiga que acabara de levar um “pé” do namorado. Veio me procurar porque achava que tinham feito “macumba”  para ele ir embora e ficou decepcionada ao ouvir da minha boca que eu não achava que era isso, mas sim que ele havia terminado pelo simples desejo de terminar, porque não estava feliz naquela relação, porque o amor tem data de validade.  Acho que se ela tivesse uma adaga naquele momento, enfiava no meu olho.

O complicado é não haver fórmula. É ter que dizer dizendo. É ter que encarar o fantasma de frente. O resultado para a alma é fascinante. Claro, às vezes somos cobrados; às vezes o outro nos culpa pela infelicidade que estamos causando nele com a nossa decisão. Mas nós não somos responsáveis pelo outro. E eu realmente creio que é melhor deixar alguém infeliz do que ambos.  Pense nisso. 

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