Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Monday, February 11, 2013

ADEUS, PAPA BENTO, ADEUS, A SUA CORJA LHE CHAMA...



Mal acordou minha alma, leio a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. Seria verdade? Sim, é verdade. E por que será que ele renunciou? Eu quero acreditar que seja porque a Igreja Católica decidiu deixar de ser hipócrita e acompanhar a evolução do mundo: apoiar o aborto, estimular o uso do sexo seguro e consciente, aceitar a homossexualidade como uma das variações normais da existência humana e permitir, àqueles que desejem, unirem-se diante Deus. Menos, menos. Ficaria satisfeito em crer que colocarão um papa avançado, que queira mudar tudo, que revele e expulse seus padres pedófilos ao invés de acobertá-los. Menos, muito menos. Acho que já ficaria contente em saber que, num jogo de estratégia mercadológica face à perda de fiéis e frente à impopularidade de Bento-não-bento, sua intolerância e intransigência, tão opostas à atitude amorosa e carismática de João Paulo II, decidiram colocar alguém com um pouco de amor para dar.

Na sexta-feira, dia 25 de janeiro, fui à Catedral da Sé em São Paulo assistir à cantata “Diário de Anne Frank”. Vou dizer que fiquei surpreso. Num demoradíssimo ato ecumênico (zzzzzzzzzz.....), católicos, judeus e árabes subiram juntos no altar para falar sobre a necessidade de respeitarmos e propagarmos a liberdade religiosa. Fiquei triste de não ver as outras religiões no altar; seria demais para eles. Fizeram questão de afirmar uma certa supremacia das religiões “abrâmicas”; mas eles estavam lá. Duas mães-de-santo, um monge budista, um engravatado que poderia ser um evangélico. Durante o ato, foram lidos trechos de antigos concílios que versavam sobre a necessidade de se respeitar as outras religiões, posto que eram todas irmãs e cultuadoras de um Deus comum.

Eu gostaria muito de crer num mundo melhor. Num mundo onde fossem aceitas e respeitadas todas as religiões e não-religiões, todos os credos e não-credos. Eu não sou ateu; já fiquei ateu uns anos por decepções e questionamentos, mas minha alma é fundamentalmente religiosa, mística. Eu sinto necessidade de entrar em contato com o “sagrado”, como diria um certo antropólogo. Mas não desprezo nem desconsidero os ateus. Acho que um ateu honesto, digno, portador de princípios, respeitador do ser humano, vale dez mil “crentes” ou deístas. Se ele vai para o céu ou não, problema dele. Mas acredito que um ateu que pratica boas obras deve ir parar em lugares muito mais avançados do que um crente maldizente.

Todos os dias, jovens homossexuais se suicidam ou se envolvem com drogas porque não são aceitos pela sociedade, pela família, pela sua igreja e, por contiguidade de tal ignorância, são levados a acreditar que não são aceitos por Deus. E mais: nesse temeroso levante da hipocrisia das indústrias-igreja, que arregimentam exércitos de fiéis preconceituosos, ignorantes e intolerantes, temo pelas vidas de inúmeros jovens que são levados a acreditar que são doentes ou pecadores por desejos que não escolheram e que poderiam ser vividos de uma forma plena, saudável e feliz se bem aceitos.


Eu nasci todo errado. Errado para aqueles pais que me colocaram no mundo. Errado para aquela igreja que frequentei durante a infância, igreja que casou meus pais, que “abençoou”  aquela união tão errada, tão desarmônica. Errado naquele bairro – como quase todos os bairros de todas as cidades, que edificam e “concretam” o preconceito e a intolerância. Errado naquela escola nazista de professores que concediam ou não a dádiva de deixar um aluno ir ao banheiro, de acordo com seus humores. Errado no meio de uma família, como tantas outras famílias, que fazem chacota ao perceberem que têm um elemento homossexual em seu seio. Cresci me acreditando errado. Foram necessários anos de psicoterapia para curar tantas feridas, feridas essas que me fariam um ser frágil, inseguro, negador de mim mesmo.
Sobraram cicatrizes. Várias. E faço questão de mostrá-las, contando e recontando os passos da minha história, para que tantos outros jovens possam ter a oportunidade de conhecer a verdade. Não a verdade dos padres, dos papas, das igrejas, dos pastores, dos hipócritas; mas a verdade da própria alma, a verdade da singular existência.

É por isso que estou emocionado ao saber que um representante dessa massa podre da sociedade se despede de um cargo de extrema projeção e capaz de influenciar lares, famílias, culturas. Numa segunda-feira de carnaval, uma festa pagã, profana, popular, nas melhores acepções dos termos, Bento se despede. Nem quero pensar no que virá, o que será. Quero apenas sonhar que a Igreja Católica fecha suas portas, constrita, reservada, pensativa, durante a quaresma, a percorrer um calvário de morte e renascimento.


3 Comments:

Blogger fernanda penkala said...

Muito Bom,meu amigo!
bjs

7:52 AM PST  
Blogger Unknown said...

Ótimo texto! :)

11:08 AM PST  
Blogger Unknown said...

Obrigado! ;-)

3:40 PM PST  

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